A Igreja primitiva teria se precipitado, ou até mesmo errado, em escolher Matias para ocupar o lugar de
Judas Iscariotes (At 1.15-26)? Seria Paulo o verdadeiro eleito para este cargo?
Os que defendem um ato precipitado, cuminando com o suposto erro da escolha de Matias, argumentam basicamente o seguinte:
1) O nome de Matias só aparece no texto base da questão, por não ter expressão ministerial - Se for por isso, o livro Atos também não se refere mais a André; Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Simão, o zelote, e Judas, filho de Tiago. E se relevância ministerial tiver haver com ser famoso, os inúmeros anônimos do Reino de Deus seriam obreiros fracassados. O que seria um absurdo!
2) Fazem uso, desconectadamente do assunto em questão, textos como II CO 1.1 e Gl 1.1 de que Paulo fora feito "apóstolo, não da parte de
homens" (Gl 1.1) - Porém, os textos se referem ao apostolado ministerial, não ao bispado de At 1.20;
3) Argumentam que Pedro, isoladamente, teria tomado essa decisão - A iniciativa fora dele, mas, as ações de At 1.23-26 são todas coletivas (propuseram, disseram, lançaram);
4) E de que Pedro, por ainda não ser cheio o Espírito Santo, ainda era um crente carnal, portanto, incapaz de ter feito essa importante escolha segundo a vontade de Deus - Primeiro, que ser cheio do Espírito não necessariamente o faz um cristão maduro. Maturidade tem haver com o fruto do Espírito. Segundo, como a decisão não foi individual, estaríamos propondo que todos os 11 apóstolos eram totalmente incapazes de estar no centro da vontade de Deus.
Os argumentos que legitimam a eleição de Matias parecem muito mais consistentes:
1) O texto de At 1.15-26 é claríssimo de que Matias tomou o bispado de Judas, sendo "acrescentado aos onze apóstolos";
2) Em seguida, Matias aparece contado com os DOZE em At 2.14 (Pedro se levantou com os onze) e At 6.2 (os doze convocaram);
3) Quando Paulo é apresentado, por Barnabé, aos apóstolos em Jerusalém, não há indícios algum de que Matias teria sido deposto (At 9.26-30);
4) Mesmo voltando a serem ONZE (pois, Tiago fora decaptado - At 12.2), no concílio de Jerusalém, Paulo aparece distinto dos apóstolos em At 15.2,22.
5) Provavelmente, um assunto com essa relevância eclesiástica, seria sido registrado por Lucas, assim como ocorreu em At 1.15-26;
6) Quando Paulo descreve a respeito das testemunhas oculares das ressurreição de Cristo, ele diz que o Senhor apareceu aos doze (I Co 15.5). Ora, Judas Iscariotes não estava vivo! Deduzimos então, que ele se referia ao fato de que o ocupante do 12º apostolado, Matias (mesmo ainda não sendo um dos doze), cumprira umas dos critérios: ser testemunha da ressurreição (At 1.22);
5) Provavelmente, um assunto com essa relevância eclesiástica, seria sido registrado por Lucas, assim como ocorreu em At 1.15-26;
6) Quando Paulo descreve a respeito das testemunhas oculares das ressurreição de Cristo, ele diz que o Senhor apareceu aos doze (I Co 15.5). Ora, Judas Iscariotes não estava vivo! Deduzimos então, que ele se referia ao fato de que o ocupante do 12º apostolado, Matias (mesmo ainda não sendo um dos doze), cumprira umas dos critérios: ser testemunha da ressurreição (At 1.22);
7) Por fim, Paulo não traz para si essa prerrogativa do 12º apóstolado em nenhuma de suas epístolas.
Sendo assim, essa suposta precipitação da escolha de Matias e de que Paulo seria o 12º apóstolo não se sustenta à exegese básica do texto sagrado.
Por isso, receio que a verdadeira discussão aqui não seja meramente teológica, mas de uma intenção subliminar de que a Igreja não tenha o direito de escolher seus líderes, uma vez que estes seriam "eleitos diretamente por Deus". E de que qualquer iniciativa da eclesia, ainda que orando, estabelecendo idôneos critérios e por voto comum, pareçam não manisfestar a vontade divina.
Em Cristo,
Pr. Ronaldo Lucena
www.arcadafe.com.br
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