Em seu livro “Ciência e Bioética – um olhar
teológico”, o professor Euler R. Westphal desmistifica o endeusamento da
ciência como uma espécie de religião. Pois, em sua prepotência, a ciência roga
para si prerrogativas divinas, prometendo muito mais do que é capaz fazer, a
exemplo da imortalidade do ser humano. Além disto, têm-se esquecido de seu
principal propósito que é ser um instrumento em favor da vida e da dignidade
humana. A partir de um prisma teológico, o autor leva-nos a refletir sobre a
necessidade de desconstruir os conceitos mecanicista (que trata o ser humano
simplesmente como uma máquina) e utilitarista (que mede a dignidade do
indivíduo a partir de sua utilidade social) da ciência moderna que, cada vez
mais, promove a separação entre Deus, o homem e o mundo.
Ao invés de dignificar a vida, muitas
vezes a ciência moderna acaba sendo utilizada para o mal. O autor denuncia seus
mitos e suas controvérsias éticas nas práticas da manipulação de embriões, da
Eugênia, das pesquisas com células-tronco, da clonagem humana, da eutanásia,
enfim, das diversas descobertas, pesquisas e manipulações justificadas pelo
pressuposto de busca da qualidade de vida e que em nome de um “bem maior”
criou-se eficientes máquinas de matar em massa, como no caso do Nazismo e que,
paradoxalmente, estavam ocorrendo também nos institutos de pesquisas
norte-americanos, no século XX. A ênfase numa visão utilitarista está se
impondo ao conceito de dignidade humana.
No capítulo 3, o autor nos fala sobre alguns mitos
da ciência que denotam um perigo contra o pensamento reflexivo e crítico uma
vez que ela “reivindica exclusividade e afirma
o caráter absoluto de seu saber”. Um de seus mitos refere-se à inquestionabilidade da
ciência, como se esta tivesse a palavra final sobre tudo ou fosse detentora da
verdade absoluta. O cientista é apresentado como um ser místico, pois, a partir
de uma visão positivista supõe-se que somente ele seria o detentor da “chave de
interpretação da realidade”, uma vez que apenas ele teria posse dos
instrumentos tecnológicos capazes de mensurar o mundo ao redor de nós.
Também temos o mito da suposta imparcialidade, como
se a ciência nunca estivesse a serviço de interesses particulares ou que seus
produtos nunca fossem fruto do limitado olhar humano dos cientistas. Como se sempre
fosse possível o cientista se isentar absolutamente do meio pesquisado ou de
suas concepções pessoais. Consideremos ainda que por trás das grandes pesquisas
sempre há a necessidade de grandes investimentos pelos detentores de capital
como as indústrias farmacêuticas que inclusive formulam currículos dos cursos
de medicina, por exemplo.
Sendo assim, reflitamos sobre a ilusão da "infalibilidade" da ciência moderna que, trazendo para si prerrogativas de caráter
religioso, julga solucionar até o problema da morte. Quando
a ciência se apresenta como uma autoridade inquestionável, declara Wesphal, “apropria-se de um direito que ela não tem: o
de ser uma proposta absoluta de solução de todos os problemas da humanidade”.
Assim, o livro “Ciência e bioética – um olhar
teológico” nos faz refletir que a histórica e sistemática tentativa da ciência
moderna em “matar” Deus, nada mais é do que uma proposta em suplantar o lugar
da religião. E este conceito é disseminado desconsiderando a história religiosa
de nossos antepassados e destruindo a esperança da sociedade moderna em um Deus
Criador, a fim de reduzir o homem a uma mera máquina sempre dependente do
tecnicismo vazio e utilitarista que a cada dia ofusca a dignidade humana.
Biografia: WESTPHAL, Euler Renato. Ciência e bioética: um olhar teológico. Capítulo 3. São Leopoldo: Sinodal. 2009.
Rio de janeiro, 02 de Dezembro de 2015
Ronaldo Lucena
Bacharel em Teologia pela FACETEN/UFRR
Comentários
Postar um comentário